quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

FOI LENDO O MEU ANTIGO EU
QUE ENCONTREI VOCÊ...
EM TODA A PLENITUDE DO SEU EU

VOCÊ ERA TÃO DIFERENTE
ERA MAIS VOCÊ? , CONSEQUENTEMENTE MAIS DE MIM...

HOJE NÃO LHE ACHO MAIS
EMBORA LHE BUSQUE EM PAGINAS AMARELECIDAS
DE UM LIVRO TRISTE E ESQUECIDO
EM GAVETAS DA VIDA , ESQUECIDAS DE AMOR

HOJE VOCÊ NÃO É VOCÊ
NEM EU SOU EU...
NOS SOMOS UM NINGUÉM DE NINGUÉM....

Maysa Monjardim

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

E agora o que faço!?

O Dia Passou,
A luz Apagou,
E Agora O que Faço?

Absolutamente nada, foi o que fiz, o dia vai indo e eu vou ficando, cada Vez mais só. A Minha vida inteira esperei, esperei... Por você, que não vem, não, não vem...

A Vida inteira, fugi de uma necessidade de ser, então foi mais facil não ser, negar,


NÃO! não me pregue uma peça, uma cruz, não escreva as Notícias do passado, e nem as do último instante, não te vi ainda hoje... E nem quero ver... Não te falei te amo hoje, Nem quero falar, o que quero é esquecer, o que sinto, o digo, e o q penso....Já o que creio é o que tenho....mas no que crêr?

Não! Eu não vou chegar nunca nessa conclusão, você ta tentando impor uma coisa que eu não sou! É POR QUÊ EU SOU MEIO COVARDE


a gente usa as palavras idiotamente, imbecilmente, Você já pensou não FALAR?




















Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...

Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?...

































































Não se esqueça de entender em que campo você vive, que tipo de concentração que o mundo/a vida nos joga a cada dia........ODEIO COISAS LÚCIDAS!


Até Breve!

domingo, 21 de novembro de 2010

'


Livre! tranquilamente em branca paz.
O futuro é isso. o futuro é o que me interessa. O que passou, passou !
Por mais q as vezes, vão acontecer coisas ruins, vão passar tempestades e obstaculos pelo meu caminho,
tenho q seguir, a vida pede pra seguir, o q eu quero é liberdade, não, liberdade não, o q eu quero ainda não tem nome!
Companheiro, luta pelo amor sem mito.
Nada mais detém teu grito
Contra a redenção!
Canta FORTE! por um mundo sem espantos, lança livre o seu quebranto contra a solidão....contra a solidão...
Que saiam todos do meu caminho! Estou indo em direçao ao futuro!

sábado, 30 de outubro de 2010


"Queria ser Pena,
que plana pelo ar
tranquilo
que tem como certeza:
a incerteza de um futuro
incerto."


Raphael França

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pensamentos : Maysa




Buscai-me nessa estrada
que por fim encontro,
cheia de certezas,
de olhares calmos
cheios de beleza
que já compreendi.
Não me importa o passado
em que, assustada,
me escondi nas dores,
esquendo amores
Itálico
que eram o começo
dessa longa ida
pra não mais voltar.

Vem que eu tenho tantos passos
para um amor inteiro,
em que todos os dias
serão os primeiros.


Maysa Monjardim

,

"Alzira bebendo vodka defronte da torre Malakoff
descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole
Alzira na rua do hospício, no meio do asfalto, fez um jardim
em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim?"

domingo, 17 de outubro de 2010

O Vento


Posso ouvir o vento passar,
assistir à onda bater,
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
... Vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Me Deixe Só!


"Não vou querer mais
Não vou poder mais
Teu olhar na minha vida
A tua calma companhia
Embora te queira tanto amor

Me deixa só
Errado e complicado
Não posso a tua paz
De nada me adianta a tua voz
Me cansa o teu eterno perdão
Embora eu queira tanto o teu peito amigo, amigo

Me deixa só
Errado e complicado
Não imponha tua mão no meu caminho
Eu prefiro amar tua distância
A morrer em outra despedida
A ir morrendo em outra direção
Embora eu queira tanto o teu peito amigo."


sábado, 2 de outubro de 2010

Quadrilha


João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.



Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cadeira Vazia




Entra, meu amor, fica à vontade

E diz com sinceridade o que desejas de mim
Entra, podes entrar, a casa é tua
Já te cansastes de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim
Eu sofri demais quando partiste
Passei tantas horas triste
Que nem quero lembrar esse dia
Mas de uma coisa podes ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia
Tu és a filha pródiga que volta
Procurando em minha porta
O que o mundo não te deu
E faz de conta que sou teu paizinho
Que há tanto tempo aqui ficou sozinho
A esperar por um carinho teu
Voltaste, estás bem, fico contente
Mas me encontraste muito diferente
Vou te falar de todo coração
Eu não te darei carinho nem afeto
Mas pra te abrigar podes ocupar meu teto
Pra te alimentar podes comer meu pão

Canção dos três barcos


Meu avô me deu três barcos:
um de rosas e cravos,
um de céu estrelados,
um de náufragos, náufragos...

ai, de náufragos!

Embarcara no primeiro,
dera em altos rochedos,
dera em mares de gelo,
e partira-se ao meio...

ai, no meio!

No segundo me embarcara,
e nem sombra de praia,
e nem corpo e nem alma,
e nem vida e nem nada...

ai, nem nada!

Embarcara no terceiro,
e que vela e que remo!
e que estrela e que vento!
e que porto sereno!

ai, sereno!

Meu avô me deu três barcos:
um de sonhos quebrados,
um de sonhos amargos,
e o de náufragos, náufragos!

ai, de náufragos!

MEIRELES, Cecília. Viagem & vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p.173-4.

A Outra


Paz, eu quero paz
Já me cansei de ser a última a saber de ti
Se todo mundo sabe quem te faz
Chegar mais tarde
Eu já cansei de imaginar você com ela
Diz pra mim
Se vale a pena amor
A gente ria tanto desses nossos desencontros
Mas você passou do ponto
E agora eu já não sei mais
Eu quero paz
Quero dançar com outro par
Pra variar amor

Não dá mais pra fingir que ainda não vi
As cicatrizes que ela fez
Se dessa vez ela é
Senhora desse amor
Pois vá embora por favor
Que não demora pra essa dor
Sangrar...

Marcelo Camelo

Redescobrir



Como um animal
Que sabe da floresta
Memórias!
Redescobrir o sal
Que está na própria pele
Macia!
Redescobrir o doce
No lamber das línguas
Macias!
Redescobrir o gosto
E o sabor da festa
Magia!

Vai o bicho homem
Fruto da semente
Memórias!
Renascer da própria força
Própria luz e fé
Memorias!
Entender que tudo é nosso
Sempre esteve em nós
História!
Somos a semente
Ato, mente e voz
Magia!

Não tenha medo
Meu menino povo
Memórias!
Tudo principia
Na própria pessoa
Beleza!
Vai como a criança
Que não teme o tempo
Mistério!
Amor se fazer
É tão prazer
Que é como fosse dor
Magia!

Como se fora
Brincadeira de roda
Memórias!
Jogo do trabalho
Na dança das mãos
Macias!
O suor dos corpos
Na canção da vida
Histórias!
O suor da vida
No calor de irmãos
Magia!

Como se fora
Brincadeira de roda
Jogo do trabalho
Na dança das mãos
O suor dos corpos
Na canção da vida
O suor da vida
No calor de irmãos..
Gonzaguinha

Palavras Do Coração


São sorrisos largos
Lagos repletos de azul
Os corações atentos
Ventos do sul
São visões abertas
Certas despertas pra luz
A emoção alerta
Que nos conduz

Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração

Os artifícios
Vícios deixando de ser
Os velhos compromissos
Pra esquecer
São pontos de vista
Uma conquista comum
O mesmo pé na estrada
De cada um

Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração.

Eu Espero

Vai sim, vai ser sempre assim
A sua falta vai me incomodar,
E quando eu não agüentar mais
Vou chorar baixinho, pra ninguém ouvir.
Vai sim, vai ser sempre assim,
Um pra cada lado, como você quis
E eu vou me acostumar,
Quem sabe até gostar de mim.
Mesmo que eu tenha que mudar
Móveis e lembranças do lugar,
O meu olhar ainda vê o seu
Me devorando bem devagar.
Vem, que eu ainda quero, vem.
Quando menos espero a saudade vem
E me dá essa vontade, vem
Que eu ainda sinto frio
Sem você é tudo tão vazio
Vem me dar essa vontade,
Vem que esse amor ainda é meu.
Troco todos os meus planos por um beijo seu
E essa noite pode terminar bem.

Luiza Possi e Dudu Falcão

Solidão (Soledad)


Solidão,
Aqui estão minhas credenciais,
Venho batendo na tua porta
Já faz um tempo
Acho que passaremos juntos temporadas,
Proponho que tu e eu vamos nos conhecendo.

Aqui estou
Te trago minhas cicatrizes
Palavras sobre papel pautado
Não preste atenção muito no que dizem
Me encontrarás
Em cada coisa que calei

Já passou
Já deixei de me enganar com
A ilusão de que viver é indolor
Que estranho que sejas tu
Que me acompanhe, solidão
logo eu, que nunca soube bem
como é ficar sozinho.

Jorge Drexler

Das Vantagens De Ser Bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector

Seus Anjos


Por um segundo eu fechei os olhos
e já deu, o sono me venceu
e nos meus sonhos tudo é colorido
Eu vejo o céu, sei voar

Não sinto frio, tomo um ar seguro
Tenho pensamentos, vou contar
Como se o tempo que por um segundo
quisesse parar

Seus anjos vão ficar aqui comigo
até o amanhecer?!
E tudo que eu sinto é tão bonito
nunca mais eu vou sofrer

Não sinto frio, tomo um ar seguro
Tenho pensamentos, vou contar
Como se o tempo que por um segundo
quisesse parar

Seus anjos vão ficar aqui comigo
até o amanhecer?!
E tudo que eu sinto é tão bonito
nunca mais eu vou sofrer

E tudo que tudo como em todo permaneça,
no centro de tua alma
que a calma acalmo e que a calma traga o sono
no sonho infinito de ser feliz

Roberta Campos

Pensamentos: Maysa


Eu ontem, num instante
nem sei porque me lembrei de você
e me ficou uma vontade
imensa, tão grande
de te ver de verdade, de te tocar e ficar.
Sem mais idas, sem lembranças
de outras vidas.
Que saudade, meu amor!
E foi tão grande desalento
que matei-me num momento
para poder voltar à vida
em que vago sem sentido,
mas que vale pelo tudo que nós fomos,
que é o que faz que eu continue
para nos lembrar.

Maysa Monjardim

Pensamentos: Maysa

"Não foi só a noite,
foi mais silêncio.
Tua ausência me buscou;

Não veio lágrima,
o dia já vinha
e só tua ausência
foi que ficou.

Ficou sozinha
com meu eu antigo,
e se entenderam,
se completaram.

Então a lágrima
caiu baixinho
no que restava
do teu carinho."

Maysa Monjardim

Woyzeck


A Peça

Friedrich Johann Franz Woyzeck é um soldado. Trabalhador e dedicado à mulher, Marie, e ao filho pequeno, é usado no trabalho como cobaia das experiências do Doutor, em troca de uns trocados a mais.

De natureza bastante questionadora, gera problemas com seu superior, o Capitão, e com o próprio Doutor, questionando a moral e os costumes sociais, uma vez que ele próprio tem um filho não sendo casado, e não compreende coisas básicas como o fato de não se poder urinar no meio da rua quando se tem vontade. Ao final das contas, é sempre colocado em seu lugar, como o soldado raso que é, uma vez que não pode ter o luxo de perder seus "privilégios" conquistados no trabalho.

Mas isso é apenas uma fachada de seu conflito, que se mostra ainda mais profundo no decorrer da peça.

Pelas experiências do Doutor, Woyzeck passa a comer apenas ervilhas, fazendo com que fique debilitado e tenha alucinações baseadas nos questionamentos que desenvolveu. Desabafa com seu colega Andrés todas as teorias conspiratórias e os sons e visões que passa a ouvir e ter. Sua própria mulher começa a ficar preocupada com suas atitudes, vendo que Woyzeck fica cada vez mais distante, mesmo nunca se descuidando de sua família.

Marie passa a ter um caso com o Tamboreiro-mor da banda militar, um sujeito atraente e bastante aproveitador, nunca deixando de se sentir culpada por sua atitude.

Pelas insinuações de seus superiores, Woyzeck passa a desconfiar da mulher, e começa a tratá-la cada vez com mais frieza. Até que suas desconfianças se mostram verdadeiras ao ver os dois juntos em um baile.

Cobaia de uma experiência, debilitado fisicamente, confuso, sem voz ativa e sem qualquer crédito com relação a seus questionamentos, traído, sozinho, Woyzeck ainda busca tirar satisfações e lavar sua honra provocando uma briga com o Tamboreiro-mor, levando uma surra. Humilhado e em total desespero, Woyzeck deixa seu testamento com Andrés, chama Marie para um passeio e a mata com uma faca.

A História

Woyzeck é uma peça baseada em fatos reais da época. Johann Christian Woyzeck (1780-1824) é um rapaz perde os pais e se torna ajudante de um fabricante de perucas. Não se afirma na profissão e para escapar à fome entra para o exército. Aceita dinheiro de um médico para fazer uma experiência: comer apenas ervilhas. O médico exulta ao ver e anotar a degradação em seu corpo. Sua mulher lhe é infiel. Seu superior lhe chama de imoral pois não é casado. O trabalho é degradante, as autoridades são prostituídas mais que constituídas e a vida familiar é um paraíso às avessas. Passa doze anos pontuados por detenções por indisciplina. É dispensado. Arranja uma amante, que tem outros homens. Desempregado, pede esmolas e dorme ao relento. Numa crise de ciúmes mata a amante, acaba por ser decapitado em consequência de ter morto a mulher.

Aqui, Ali


Vou ficar
o tempo que preciso for
pra te dar todo o amor necessário

Vou correr
por toda terra a procurar
seu olhar e o sorriso que é tão raro

A vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo

Vou chorar
às vezes vou sorrir de amor
ser assim trazer o lado bom das cores

Vou somar
os restos que você deixou
melhorar, reparando minhas dores

A vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo

Solidão partiu, agora só você e eu aqui
solidão partiu, agora só você e eu aqui, ali
pra ser feliz, pra viver, pra sonhar
pra sorrir ou chorar, assim, pra sempre...

Roberta Campos

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Medo da Eternidade


Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.

Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.

Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:

- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.

- Não acaba nunca, e pronto.

- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.

- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.

- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.

- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.

- Perder a eternidade? Nunca.

O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.

- Acabou-se o docinho. E agora?

- Agora mastigue para sempre.

Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.

Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.

Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.

Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.


Clarice Lispector

O Primeiro Beijo





Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

Clarice Lispector
(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)

Apenas Mais Uma De Amor



Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
E eu vou sobreviver...
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Ismália




Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens

Apostila



Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajas tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto?

Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,

E estremece, no mesmo movimento que o da terra,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.

Álvaro de Campos

sábado, 17 de abril de 2010

Poema XX






Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quiz e por vezes ela também me quiz
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quiz e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.
(Pablo Neruda)