sábado, 30 de outubro de 2010


"Queria ser Pena,
que plana pelo ar
tranquilo
que tem como certeza:
a incerteza de um futuro
incerto."


Raphael França

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pensamentos : Maysa




Buscai-me nessa estrada
que por fim encontro,
cheia de certezas,
de olhares calmos
cheios de beleza
que já compreendi.
Não me importa o passado
em que, assustada,
me escondi nas dores,
esquendo amores
Itálico
que eram o começo
dessa longa ida
pra não mais voltar.

Vem que eu tenho tantos passos
para um amor inteiro,
em que todos os dias
serão os primeiros.


Maysa Monjardim

,

"Alzira bebendo vodka defronte da torre Malakoff
descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole
Alzira na rua do hospício, no meio do asfalto, fez um jardim
em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim?"

domingo, 17 de outubro de 2010

O Vento


Posso ouvir o vento passar,
assistir à onda bater,
mas o estrago que faz
a vida é curta pra ver...
Eu pensei..
Que quando eu morrer
vou acordar para o tempo
e para o tempo parar:
Um século, um mês,
três vidas e mais
um passo pra trás?
Por que será?
... Vou pensar.

- Como pode alguém sonhar
o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso
já é pensar em dizer
e isso, eu vi,
o vento leva!
- Não sei mais
sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer...
E isso por que?
Diz mais!
Uh... Se a gente já não sabe mais
rir um do outro meu bem então
o que resta é chorar e talvez,
se tem que durar,
vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar... Ah!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Me Deixe Só!


"Não vou querer mais
Não vou poder mais
Teu olhar na minha vida
A tua calma companhia
Embora te queira tanto amor

Me deixa só
Errado e complicado
Não posso a tua paz
De nada me adianta a tua voz
Me cansa o teu eterno perdão
Embora eu queira tanto o teu peito amigo, amigo

Me deixa só
Errado e complicado
Não imponha tua mão no meu caminho
Eu prefiro amar tua distância
A morrer em outra despedida
A ir morrendo em outra direção
Embora eu queira tanto o teu peito amigo."


sábado, 2 de outubro de 2010

Quadrilha


João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.



Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cadeira Vazia




Entra, meu amor, fica à vontade

E diz com sinceridade o que desejas de mim
Entra, podes entrar, a casa é tua
Já te cansastes de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim
Eu sofri demais quando partiste
Passei tantas horas triste
Que nem quero lembrar esse dia
Mas de uma coisa podes ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia
Tu és a filha pródiga que volta
Procurando em minha porta
O que o mundo não te deu
E faz de conta que sou teu paizinho
Que há tanto tempo aqui ficou sozinho
A esperar por um carinho teu
Voltaste, estás bem, fico contente
Mas me encontraste muito diferente
Vou te falar de todo coração
Eu não te darei carinho nem afeto
Mas pra te abrigar podes ocupar meu teto
Pra te alimentar podes comer meu pão

Canção dos três barcos


Meu avô me deu três barcos:
um de rosas e cravos,
um de céu estrelados,
um de náufragos, náufragos...

ai, de náufragos!

Embarcara no primeiro,
dera em altos rochedos,
dera em mares de gelo,
e partira-se ao meio...

ai, no meio!

No segundo me embarcara,
e nem sombra de praia,
e nem corpo e nem alma,
e nem vida e nem nada...

ai, nem nada!

Embarcara no terceiro,
e que vela e que remo!
e que estrela e que vento!
e que porto sereno!

ai, sereno!

Meu avô me deu três barcos:
um de sonhos quebrados,
um de sonhos amargos,
e o de náufragos, náufragos!

ai, de náufragos!

MEIRELES, Cecília. Viagem & vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p.173-4.

A Outra


Paz, eu quero paz
Já me cansei de ser a última a saber de ti
Se todo mundo sabe quem te faz
Chegar mais tarde
Eu já cansei de imaginar você com ela
Diz pra mim
Se vale a pena amor
A gente ria tanto desses nossos desencontros
Mas você passou do ponto
E agora eu já não sei mais
Eu quero paz
Quero dançar com outro par
Pra variar amor

Não dá mais pra fingir que ainda não vi
As cicatrizes que ela fez
Se dessa vez ela é
Senhora desse amor
Pois vá embora por favor
Que não demora pra essa dor
Sangrar...

Marcelo Camelo

Redescobrir



Como um animal
Que sabe da floresta
Memórias!
Redescobrir o sal
Que está na própria pele
Macia!
Redescobrir o doce
No lamber das línguas
Macias!
Redescobrir o gosto
E o sabor da festa
Magia!

Vai o bicho homem
Fruto da semente
Memórias!
Renascer da própria força
Própria luz e fé
Memorias!
Entender que tudo é nosso
Sempre esteve em nós
História!
Somos a semente
Ato, mente e voz
Magia!

Não tenha medo
Meu menino povo
Memórias!
Tudo principia
Na própria pessoa
Beleza!
Vai como a criança
Que não teme o tempo
Mistério!
Amor se fazer
É tão prazer
Que é como fosse dor
Magia!

Como se fora
Brincadeira de roda
Memórias!
Jogo do trabalho
Na dança das mãos
Macias!
O suor dos corpos
Na canção da vida
Histórias!
O suor da vida
No calor de irmãos
Magia!

Como se fora
Brincadeira de roda
Jogo do trabalho
Na dança das mãos
O suor dos corpos
Na canção da vida
O suor da vida
No calor de irmãos..
Gonzaguinha

Palavras Do Coração


São sorrisos largos
Lagos repletos de azul
Os corações atentos
Ventos do sul
São visões abertas
Certas despertas pra luz
A emoção alerta
Que nos conduz

Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração

Os artifícios
Vícios deixando de ser
Os velhos compromissos
Pra esquecer
São pontos de vista
Uma conquista comum
O mesmo pé na estrada
De cada um

Sonhos aventuras
Juras promessas
Dessas que um dia acontecerão
Você me daria a mão?
Todos estes versos soltos dispersos
No meu novo universo serão
Palavras do coração.

Eu Espero

Vai sim, vai ser sempre assim
A sua falta vai me incomodar,
E quando eu não agüentar mais
Vou chorar baixinho, pra ninguém ouvir.
Vai sim, vai ser sempre assim,
Um pra cada lado, como você quis
E eu vou me acostumar,
Quem sabe até gostar de mim.
Mesmo que eu tenha que mudar
Móveis e lembranças do lugar,
O meu olhar ainda vê o seu
Me devorando bem devagar.
Vem, que eu ainda quero, vem.
Quando menos espero a saudade vem
E me dá essa vontade, vem
Que eu ainda sinto frio
Sem você é tudo tão vazio
Vem me dar essa vontade,
Vem que esse amor ainda é meu.
Troco todos os meus planos por um beijo seu
E essa noite pode terminar bem.

Luiza Possi e Dudu Falcão

Solidão (Soledad)


Solidão,
Aqui estão minhas credenciais,
Venho batendo na tua porta
Já faz um tempo
Acho que passaremos juntos temporadas,
Proponho que tu e eu vamos nos conhecendo.

Aqui estou
Te trago minhas cicatrizes
Palavras sobre papel pautado
Não preste atenção muito no que dizem
Me encontrarás
Em cada coisa que calei

Já passou
Já deixei de me enganar com
A ilusão de que viver é indolor
Que estranho que sejas tu
Que me acompanhe, solidão
logo eu, que nunca soube bem
como é ficar sozinho.

Jorge Drexler

Das Vantagens De Ser Bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector

Seus Anjos


Por um segundo eu fechei os olhos
e já deu, o sono me venceu
e nos meus sonhos tudo é colorido
Eu vejo o céu, sei voar

Não sinto frio, tomo um ar seguro
Tenho pensamentos, vou contar
Como se o tempo que por um segundo
quisesse parar

Seus anjos vão ficar aqui comigo
até o amanhecer?!
E tudo que eu sinto é tão bonito
nunca mais eu vou sofrer

Não sinto frio, tomo um ar seguro
Tenho pensamentos, vou contar
Como se o tempo que por um segundo
quisesse parar

Seus anjos vão ficar aqui comigo
até o amanhecer?!
E tudo que eu sinto é tão bonito
nunca mais eu vou sofrer

E tudo que tudo como em todo permaneça,
no centro de tua alma
que a calma acalmo e que a calma traga o sono
no sonho infinito de ser feliz

Roberta Campos

Pensamentos: Maysa


Eu ontem, num instante
nem sei porque me lembrei de você
e me ficou uma vontade
imensa, tão grande
de te ver de verdade, de te tocar e ficar.
Sem mais idas, sem lembranças
de outras vidas.
Que saudade, meu amor!
E foi tão grande desalento
que matei-me num momento
para poder voltar à vida
em que vago sem sentido,
mas que vale pelo tudo que nós fomos,
que é o que faz que eu continue
para nos lembrar.

Maysa Monjardim

Pensamentos: Maysa

"Não foi só a noite,
foi mais silêncio.
Tua ausência me buscou;

Não veio lágrima,
o dia já vinha
e só tua ausência
foi que ficou.

Ficou sozinha
com meu eu antigo,
e se entenderam,
se completaram.

Então a lágrima
caiu baixinho
no que restava
do teu carinho."

Maysa Monjardim

Woyzeck


A Peça

Friedrich Johann Franz Woyzeck é um soldado. Trabalhador e dedicado à mulher, Marie, e ao filho pequeno, é usado no trabalho como cobaia das experiências do Doutor, em troca de uns trocados a mais.

De natureza bastante questionadora, gera problemas com seu superior, o Capitão, e com o próprio Doutor, questionando a moral e os costumes sociais, uma vez que ele próprio tem um filho não sendo casado, e não compreende coisas básicas como o fato de não se poder urinar no meio da rua quando se tem vontade. Ao final das contas, é sempre colocado em seu lugar, como o soldado raso que é, uma vez que não pode ter o luxo de perder seus "privilégios" conquistados no trabalho.

Mas isso é apenas uma fachada de seu conflito, que se mostra ainda mais profundo no decorrer da peça.

Pelas experiências do Doutor, Woyzeck passa a comer apenas ervilhas, fazendo com que fique debilitado e tenha alucinações baseadas nos questionamentos que desenvolveu. Desabafa com seu colega Andrés todas as teorias conspiratórias e os sons e visões que passa a ouvir e ter. Sua própria mulher começa a ficar preocupada com suas atitudes, vendo que Woyzeck fica cada vez mais distante, mesmo nunca se descuidando de sua família.

Marie passa a ter um caso com o Tamboreiro-mor da banda militar, um sujeito atraente e bastante aproveitador, nunca deixando de se sentir culpada por sua atitude.

Pelas insinuações de seus superiores, Woyzeck passa a desconfiar da mulher, e começa a tratá-la cada vez com mais frieza. Até que suas desconfianças se mostram verdadeiras ao ver os dois juntos em um baile.

Cobaia de uma experiência, debilitado fisicamente, confuso, sem voz ativa e sem qualquer crédito com relação a seus questionamentos, traído, sozinho, Woyzeck ainda busca tirar satisfações e lavar sua honra provocando uma briga com o Tamboreiro-mor, levando uma surra. Humilhado e em total desespero, Woyzeck deixa seu testamento com Andrés, chama Marie para um passeio e a mata com uma faca.

A História

Woyzeck é uma peça baseada em fatos reais da época. Johann Christian Woyzeck (1780-1824) é um rapaz perde os pais e se torna ajudante de um fabricante de perucas. Não se afirma na profissão e para escapar à fome entra para o exército. Aceita dinheiro de um médico para fazer uma experiência: comer apenas ervilhas. O médico exulta ao ver e anotar a degradação em seu corpo. Sua mulher lhe é infiel. Seu superior lhe chama de imoral pois não é casado. O trabalho é degradante, as autoridades são prostituídas mais que constituídas e a vida familiar é um paraíso às avessas. Passa doze anos pontuados por detenções por indisciplina. É dispensado. Arranja uma amante, que tem outros homens. Desempregado, pede esmolas e dorme ao relento. Numa crise de ciúmes mata a amante, acaba por ser decapitado em consequência de ter morto a mulher.

Aqui, Ali


Vou ficar
o tempo que preciso for
pra te dar todo o amor necessário

Vou correr
por toda terra a procurar
seu olhar e o sorriso que é tão raro

A vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo

Vou chorar
às vezes vou sorrir de amor
ser assim trazer o lado bom das cores

Vou somar
os restos que você deixou
melhorar, reparando minhas dores

A vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo

Solidão partiu, agora só você e eu aqui
solidão partiu, agora só você e eu aqui, ali
pra ser feliz, pra viver, pra sonhar
pra sorrir ou chorar, assim, pra sempre...

Roberta Campos