sábado, 28 de maio de 2011



Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois

Cabe até o meu amor
Essa é a última oração pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe essa oração.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Quem é mais ?







O que escreve com a coragem por um desencargo de consciência ou o que ao ler se descobre, aceita e reconhece que, durante o tempo em que vomitou, deus as mãos com o futuro; que durante o tempo em que vomitou, tratou de planejar e ponto final, até a proxima. Quando será? Quem lê se identifica, procura corrigir... mas corrigir o quê, se ele se identificou, portanto é ele quem está ali. Então se corrige, se renega, pois está querendo desturir o que fez, bem ou mal. Volta a pergunta: Quem é mais? É claro que quem escreveu também passou por tudo aquilo, mas ao escrever ele está propondo, não tentando corrigir. Divulga a sua autopiedade, impõe as suas neuroses ou não, e ponto. Jamais voltará a escrever a mesma coisas pelo óbvio. O que lê começa a se odiar ou se amar, a partir do que lhe ecoou. Só se soube depois.


Maysa Monjardim

sexta-feira, 6 de maio de 2011



Eu e o Tempo





No tempo que se afasta
e se afoga na lembrança,
a estrela que se apaga
dorme a última esperança.

Um frágil momento de amor,
sou barco e noite escura
que se afasta que procura
e vê o sonho desmanchado
em cada rosto esquecido.

São tantos os naufrágios
e receios escondidos.
Sou folha perdida no ar
que o vento arrasta e enrola
e gasta, roça a terra sem chegar.

Ah! Se eu pudesse deslizar na viação,
nessa vela que se alteia e corta o mar,
viajando a imensidão
sem me perder pelo mar.

Ah! Se eu pudesse minha sombra verdejar,
sobre a terra que se estende ao teu redor,

não seria folha solta pelo espaço,
pelo vento...